PONTES DE MIRANDA
(1892-1979)
Francisco Cavalcanti
Pontes de Miranda nasceu em 23 de abril de 1892, filho e neto de
matemáticos, recebendo o nome de Francisco em homenagem ao santo
homônimo, sendo prematuro e vindo a esse mundo na terra de Maceió,
Alagoas, Brasil. Aos 7 anos de idade já revelava ser superdotado,
lendo corretamente em francês e português, e aos dezessete anos já
teria escrito um livro, que foi publicado na França, após ter
enviado para a publicação ao Rio de Janeiro. Apesar de ser sempre
lembrado como grande jurista, em cursos de Direito, bem como
especializações, mestrados e doutorados, ele era pra ter sido, a
exemplo de pai e avô, matemático e físico, sendo que
aos 17 anos
seu pai o teria comprado passagem para estudar na Inglaterra, em
Oxford, mas por conselho de sua querida tia, Francisca (Chica), a
quem sempre falou com carinho, acabou estudando Direito e ficando
pelo Brasil. Mas foi assim ainda sociólogo, advogado, professor
universitário, juiz e diplomata. Para
tanto,
encantado com a matemática, mesmo no Direito, fez célebres
equações, as equações pontianas, e seu primeiro livro, “À
margem do Direito”, foi elogiado por Rui Barbosa. Também escreveu
sobre biologia e inclusive sobre teoria de personalidades, “Método
de análise sociopsicológica”, o qual está desaparecido até
hoje, onde analisou grandes personalidades do mundo, e que disse que
desapareceu e não pode reescrever. Esse livro desapareceu quase que
por conspiração. Foi advogado no Recife
e seu pai o teve de sustentar pelos 3 primeiros meses, mas depois
recebeu proposta de um jornal que lhe ofereceu uma sala, em troca de
que escrevesse artigos. Bacharel em Ciências Sociais em 1911,
escreveu ensaio de psicologia que novamente teria sido elogiado por
Rui Barbosa. Escreveu inclusive sobre a evolução do homem, em livro
chamado “Garra, mão e dedo”, com alusão a esses momentos. Sua
obra é volumosa, e em cada assunto do Direito ele escreve em vários
volumes, sendo que em direito civil, há seu majestoso “Tratado de
Direito Privado”, em 60 volumes, ao qual li uma parte. Sua
importância maior é no Direito
Constitucional,
ao qual comentou todas as constituições brasileiras de seu tempo,
possuindo eu a “Comentários à constituição de 1967”, a qual
li e sublinhei partes filosóficas. Pontes se casou com Maria
Biatriz, que foi sua primeira namorada, tendo com esta quatro filhas,
Maria Penaz, Maria Alzira, Rosa Beatriz e Maria Beatriz. Faleceu sua
esposa em 1959 e depois se casa com Amnéris, com a qual teve mais
uma filha, Francisca Maria. Apesar de se pensar como um homem de
letras e reservado, Pontes era ligado a muitas festas, frequentando a
noite carioca e convidava amigos muitas vezes para se divertir e
visitar sua casa. Ele defendia em muito a felicidade em seus livros.
Sempre bem vestido e elegante, para relaxar bebia uma bebida de
maracujá. Seu modo de pensar e escrever era muito o alemão. Foi
inclusive convidado a ser embaixador por lá, mas negou por haver o
governo nazista tomado conta. Em 1924 foi juiz de órfãos,
trabalhando depois como desembargador do antigo Tribunal de Apelação
do Distrito Federal, quando representou Brasil em conferências
internacionais de Chile e Haia. Foi amigo de Albert Einstein e
inclusive escreveu alguma tese corrigindo a curvatura do espaço, da
teoria desse, de modo a levar em conta implicações metafísicas.
Enviou para o “Congresso Internacional
de Filosofia”,
mas não foi apreciada, por não estar inscrito o Brasil no
Congresso. Pontes era interessado em física e até em mecânica
quântica. Mesmo não sendo Católico, foi amigo de Papa João XXIII,
mas em 1975 se converteu Católico. Passava a maior parte de seu dia
entre 3 bibliotecas, que continham 90 mil livros. Publica mais de 300
obras no Brasil e exterior. Duas vezes premiado pela Academia
Brasileira de Letras, na década de 20.
Sobre a amizade de
Pontes com Einstein e seu retoque na teoria da relatividade, lembra
blog: “As
perguntas — prosseguiu o texto publicado no jornal à época —
‘foram feitas matemática e filosoficamente. Einstein havia dito
que um jurista interessar-se por estas questões sutis era de
estranhar.Naquela oportunidade, apesar de estranhar que um jurista se
interessasse por essa temática, Albert Einstein sugeriu a Pontes
de Miranda que escrevesse uma tese sobre a representação do espaço,
para o Congresso internacional de Filosofia que se daria na Itália,
em Nápoles, em 1924. Ocorre que o Brasil não tinha representação
para esse congresso. Atendendo à insistência de Max Planck, Pontes,
que acatara a sugestão de Einstein, elaborou seu ensaio em alemão,
denominando-o Vorstellung Von Raume. Enviou-a por intermédio do
Kaiser-Wilhelm Institut, posteriormente Max Planck Institut.
A
tese retocou a teoria geral da relatividade. Foi
aprovada. Einstein acatou-a como correta e agradeceu a
correção””.
Eleito
em 8 de março de 1979 a cadeira 7 da Academia de Letras do Brasil.
Muito teimoso, tinha teorias diferentes de outros juristas, mas por
fim que seriam aceitas pelos doutrinadores do Direito. Interessante,
dentre tantos outros ensinos seus, em linguagem diferente de outros
juristas, está presente nos “Comentários à constituição de
1967”,
a respeito de se usar a lógica na igualdade. Assim tratou a
igualdade de ponto de vista lógico: “Conceito lógico de igualdade
– Todos os que conhecem um pouco de Lógica, sabem que em
proposições como (1) 'A é preto' e (2) 'A é B' não é o mesmo o
significado de 'é'. Em (1), a expressão 'é', posta entre nomes,
traduz-se ou lê-se como '… tem a qualidade ou propriedade...' ou '
pertencente à classe das coisas pretas', e escreve-se ƹ.
Em (2), traduz-se ou lê-se como '...é o mesmo que...'. (…) Se a
igualdade aritmética não existe entre os homens, a igualdade
geométrica prevalece entre eles”. Pontes de Miranda faleceu
no Rio de Janeiro, em 22 de dezembro de 1979, com um enfarto.