Manifestações
e uma reflexão sobre a ética
Vimos
recentemente uma série de manifestações que nos orgulham de nossa
conquistada democracia. Comparando a outros tempos, quando não se
podia sequer tocar em nome de presidente da república, agora se tem
uma real liberdade de expressão. Em especial a luta pela ética e
contra a corrupção são de grande relevância. Lendo obras de
filósofos gregos clássicos, fiquei matutando sobre até onde temos
um modelo exemplar, e até onde não estamos desvirtuados no poder. O
povo tem o poder, mas até onde isso é eficaz, quando se delega?
Onde se pode exigir um modelo de comportamento quando a sociedade
vive de jeitinhos? Seria a penalidade imposta a corruptos algo
eficaz? Essas e outras questões nos aparecem aqui.
Primeiro
que na China um político que aceitou propina, um prefeito, foi
condenado em certo julgamento, a pena de morte. Não vejo que o
Estado tenha direito de aplicar pena de morte, mas também não
entendo de se haver penalidade tão fraca a um crime tão grave, que
é dilapidar bens e valores do próprio Estado. Isso parece ser uma
questão ética, já em primeiro olhar. Ética é difícil de
definir, e se aproxima muito de moral. Mas as pessoas no geral têm
noção do que é certo e errado. Não havendo uma reação judicial,
o ato fica um tanto escondido, e temos uma ética desvirtuada, uma
tirania de valores. Vemos que o imoral começa em pequenas coisas, e
que as pessoas acabam por se entregar a tentação de fazer algo
errado, mesmo que seja não pagar imposto, comprar produto pirata ou
mesmo receber alguma vantagem onde não poderia.
Para
o filósofo Platão, cada pessoa teria algo a fazer na sociedade, uma
tarefa. Isso tudo deveria caminhar para a virtude. E por fim a uma
espécie de justiça. Sabemos o que é de algum modo, a justiça, a
moral e o que é certo. Políticos deveriam ter cargos de honra, e
não remunerados. Em países de primeiro mundo, alguns, é assim.
Mas se grandes empresas financiam os políticos, as corporações,
não se tratando tanto de apenas um dinheiro público, mas sim de
algum interesse quase secreto. Então, a virtude começa em cada
pessoa, não apenas nos governantes. Pois os governantes são
formados de pessoas, e são brasileiros, não estrangeiros.
Já
Aristóteles falou que as leis se adequam muito com o hábito. O
Brasil talvez tenha obtido um hábito histórico de punir menos as
coisas. Já na educação, quando portugueses presenciavam as
crianças brasileiras, ficavam surpreendidos com a liberdade delas,
em comparação ao padrão europeu. As leis se adaptam com o clima. E
em clima quente há mais criminalidade. Tudo isso é fato que se pode
comprovar. Mas a evolução ética se dá não apenas com a punição,
mas mais com a cultura e educação. A educação é conhecida e
defendida, apesar de professores ainda não serem tão valorizados.
Já a cultura fica para último plano, por triste realidade. Com um
sustento cultural, certamente muita coisa melhoraria. Mas a renovação
política é positiva, e vai sobrar para muita gente que não anda na
linha. E não vejo uma civilização evoluída com modelos severos,
como a citada China ou mesmo outros, orientais e aqui de nosso
continente. O que importa é que a ética seja estudada, praticada e
cada vez mais defendida. Parabéns ao povo que mostrou sua voz, e
assim exerceu seu direito constitucional. Pois muito se lutou para
essa conquista, para a liberdade e a república democrática. Mas é
com atos pequenos que se previne os grandes, e ainda vai tempo para
termos uma renovação social. Haverá assim uma nova política, que
certamente era idealizada por grandes pensadores, e que antes disso,
terá talvez de lotar presídios. Mas com cultura e educação se
prevenirá isso, e se garantirá um futuro mais auspicioso.
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