Direito Cultural
No último dia 6 de
Julgo, no Sábado, ocorreu a Conferência Intermunicipal de Cultura, na qual
participaram as cidades de São Bento do Sul, Campo Alegre e Rio Negrinho, todas
discutindo temas relativos a cultura e com reivindicações em seus eixos de
discussão. Ano passado foi elaborado o Plano Municipal de Cultura, a que também
participei, e assim temos já uma série de metas a curto e longo prazo. Fato
triste em nossa sociedade é que em torno de 90% da população brasileira nunca
foi ao cinema, teatro ou a alguma apresentação artística como um balé. Mas o
quem vem a ser cultura e porque é importante? E será que existe algum direito
cultural? O que vem a ser a cidadania cultural? Esses e outros temas abordaremos
aqui.
Cultura é algo bem
amplo. Não se refere apenas a alguma apresentação, e menos ainda a mera
formação acadêmica. Sobre diferença de cultura e erudição, eu já havia escrito
o livro Axiologia, onde refleti sobre o tema. A erudição é conquistada por
formação acadêmica, estudo, leitura, cursos etc. Já a cultura faz parte da
vida, da tradição, de bens simbólicos. Esse bem simbólico é algo que diferencia
o humano dos animais, e que traz uma aura de vida a certas coisas que sem a
cultura não teriam grande importância. Um traje ou fantasia não podem
significar nada em si, mas como bens simbólicos são muita coisa, revelando a
história de um povo, seus costumes e princípios, e diferenciando de outros. O
ponto central nas discussões culturais presentes é a diversidade cultural, que
é o maior dentre todos os valores humanos. E cultura é economia e
desenvolvimento, como já prova o turismo. Encarar a atividade dos agentes
culturais como mero hobby é um equívoco, pois se deve viver de cultura, não
apenas ter isso como alternativa.
Sobre cidadania
cultural, fala a socióloga argentina Elizabeth Jelín, de modo que faz um
comparativo em países latinoamericanos. Assim a cultura tem de ser um interesse
estatal porque isso além de preservar as pessoas afastadas do crime organizado,
drogas, doenças e estresse, gera emprego e renda. A cidadania cultural faz
parte de se conhecer e desabrochar as próprias potencialidades. Antes o cidadão
era parte de uma elite, em Roma. Com a filosofia iluminista francesa se tornou
o civilizado, aquele que não era selvagem. Atualmente vemos que a cultura
também engloba o chamado “selvagem”, e que justamente ele que é o dono do
patrimônio cultural, daquela herança de identidade cultural que muito se tem
perdido. E cidadão é mais do que o que vota.
Mas na Conferência
Intermunicipal de Cultura houve boa participação de agentes culturais, e se
discutiu muito pelo povo. Desde a falta de acesso, bem como de acessibilidade,
a falta de espaço para apresentações e muitos outros assuntos. Foram horas e horas
de manifestações de propostas. Era o momento de propor mudanças, cumprindo o
Plano Municipal de Cultura. Talvez o nosso ressentimento, como classe
artística, foi não ter tido a oportunidade de dar plena vazão ao nosso talento,
seja por falta de apoio público ou privado, seja pela falta de uma busca
cultural pela sociedade. Isso tudo vem mudando, como o caso das atuais
passeatas nas ruas, fazem com que se repense a vida pós-moderna de nossa
sociedade. Todos têm direito a cultura e isso não deve ficar preso a questão
financeira. Por isso do governo criar o “vale cultura”, onde uma determinada
quantia é oferecida ao trabalhador para que ele e sua família frequentem eventos
e tenham acesso a bens culturais. Tomara a situação se reverta, para que os
brasileiros leiam mais, vivam mais sua cultura e acessem os bens que trazem sua
identidade, além da cultura de massa e mercantilizada. Que as pessoas exerçam
seu direito cultural, que já é constitucionalmente garantido.
Mariano Soltys,
escritor e advogado
Mariano Soltys: pela primeira vez na vida me senti bem representado em alguma coisa, ainda bem que você participa disso. Continue esse trabalho. CLÉVERSON ISRAEL MINIKOVSKY
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